VESTIDO AZUL
terça-feira, setembro 13, 2011
  sobre melancolia, de lars von trier (pra variar...)
mais uma conversa instigante com eduardo "rococó" roberto pelo gtalk. melancolia foi a bola da vez. com a permissão dele, relaciono abaixo o diálogo. (a conversa se deu no dia 12 de agosto, mas queria esperar os frissons sobre o filme e sobre o episódio em cannes passarem para colocar aqui...)

19:38 eu: gay
19:39 ou: BIXIXSSS
eu: no caso...
19:43 vi melancolia

15 minutos
19:59 ou: eae o q achou
eu: sensacional
mas to meio mal agora
20:00 ou: é foda mano
eu: hehe
ou: mas eu sempre preciso da sua análise, gusta, vc sempre me ajuda a entender os filmes
ainda mais esses COMPLEXOS
eu: olha...
20:01 o filme tá resumido naquele prelúdio
não sei se lembra
ou: lembro lembro
eu perdi os 3min iniciais devido a uma vontade louca de mijar :\\\\\\
mas vi boa parte
20:02 eu: as chaves estão no conflito entre a forma (altiva, clichê de filme catástrofe, planos dramáticos por conflitos aparentemente sentimentais, etc) e o conteúdo (a melancolia per se, o vazio em seu sentido aterrorizante, arrebatador).
20:03 na verdade é um filme bem simples, se for pensar estruturalmente. ele simplesmente inverte a relação dessas duas composições (forma e conteúdo) dos filmes convencionais...
o conteúdo normalmente é uma inercia da forma.
20:04 o desesperador é que ali há uma construção impecável de forma mas que toma para si conscientemente um conteúdo temático que envolve a impossibilidade de reconhecer um momento de concretização catártica.
20:09 (aliás, pelo filme dá agora para entender a piadinha do lars von trier em cannes, sobre hitler... a ironia que ele queria passar mas não conseguiu [por infelicidade e falta de tato dele também...] é que o tema da música que compõe a trilha do filme é do autor favorito do hitler. só que a trilha, que em certo sentido é o que dita o "ritmo" do filme bem literalemente, ele parece que está a caminhar para algo altivo, uma resolução apoteótica sobre os conflitos, mas, em verdade, ela leva ao abismo, a destruição de tudo, o fim da vida, e tudo o que é abarcado por isso se resigna, aceita passivamente a malignidade da vida... ao mesmo tempo que há um momento de verdade nisso... o reconhecimento do fim como algo que edifica e traz sentido... nossa, fico arrepiado de lembrar... é muito bom. e é importante notar que nenhuma das duas irmãs é a "correta", mas a justine é o lastro, o receptáculo que nos mostra onde estão as brechas dessas tensões... a portadora do inexprimível, que, justamente por ser isso, se destrói completamente... assustadoramente bom.
20:10 ou: porra porra porra
20:11 foda demais foda demais
me deu uma vontade de reler um freud depois do filme
20:12
eu: ah, ajuda, mas tem bem mais coisas...
ou: sim sim
eu: as figuras, os quadros que ela coloca no quarto no átimo de desespero,
o nada que ela tenta exprimir se torna o próprio mundo.
20:13 ou: mas tipo o q? po esse filme me deixou super intrigado com varias coisas
eu: não sei se notou, mas uma das figuras que ela escolhe aparece no começo, no prólogo
ou: não não
qual
20:14 eu: a dos caçadores saindo do bosque, indo em direção a um vilarejop
preciso descobrir que quadro é aquele
20:15 ou: ah sei sei
20:16 mas qual é a pegada?
o simbolismo
eu: mas a questão é como isso aparece: é uma figura que está inserida na composição de cada imagem como que equivalente a todas as outras, ou seja, o que ela queria "representar", o grito que ela não consegue dar e tenta colocar pelas figuras, é algo que compõe o "mundo", a relação entre as coisas, entre os elementos... e ditado pela progressão da musica...
animal
20:17 interior e exterior se tornam chapados. e, portanto, precisam ser negados.
daí o fim do mundo
e ela ser a única que aceita, que o percebe como algo que lhe dá substancia (o banho nu dela à luz do planeta...)
20:18 óbvio que tem muito mais coisa
só estou colocando o que se passa na minha cabeça no momento
ou: porra podicrer mesmo, eu não tinha sacado essa relação
mas po concordo totalmente
eu: mas é uma obra magnifica
20:19 ou: mas ó, a parte do casamento eu admito q tem várias coisas q eu não peguei
q nem, o lance dela com o estagiário e etc
aquela hora q ela dorme com o sobrinho e ela.... puts... vc deve lembrar pq vc acabou de ver
e a música dá um tom dramático
20:21 eu: do estagiário entendo como a banalização do que deveria ser valorizado. uma forma de expor a percepção da nulidade de tudo. ela trepa com o estagiário, que é patético, que trabalha para um cara que ela tem nojo, e negligencia o marido. uma forma de colocar a estupidez de absolutamente tudo.
então, a criança é a questão mais cruel do filme, que precisaria meditar melhor
ou: pq
20:22 eu: pq o único momento de fraqueza dela diante do fim do mundo é por causa da criança.;
a caverna mágica.
20:23 ela perde totalmente o medo. destrói as ilusões da irmã de tentar criar uma solenidade para o momento de colisão. mas quando é o menino que fala, ela cria uma mentira, que ela se adequa. cinicamente. ela termina quase catatonica.
20:24 quando ela dorme com o menino, digamos que é um momento de fuga dela da grande feira de falsidades e estupidez que é o casamento.
20:25 ou seja, ninguém se salva. ninguém é inocente ali. o mais inocente, a criança, é quem "subverte" a unica personagem que parecia peitar de frente o fim do mundo.
mas deve-se pautar com calma isso. é uma ilustração presente muito no anticristo também...
20:26 a inocência como núcleo da fraqueza, e dos conflitos que suscitam o "mal".
a inocência, de certa forma, perverte todas as relações...
20:27 não que a inocencia é pervertida... ela mesma tem sua causalidade afirmativa nessas relações...
a inocencia não é inocente, basicamente...
uma lição importante, mas perigosa...
20:33 ah, outra coisa: minha nossa senhora, como o pondé é imbecil. não entendeu porra nenhuma do filme.
20:34 aquilo que falei, de uma estrutura que leva ao vazio por negar a catarse, ele entende como o próprio catártico. ele, literalmente, vai no embalo da música. o que, de certa forma, é sintomático... o hitler fazia o mesmo...
20:35 (me refiro ao wagner e talz, e o papel disso no filme...)
20:38 ou: hahahahah felizmente não li o pondé
mas vou ler pra ver a coisa
sempre tenho a sensação de q a crítica nõ entende um cacete dos filmes do von trier
20:39 eu: se vc se refere a folha e estadão, não vejo pq sequer considerar o nome crítica
20:40 mas o texto dele é esse, no sentido de ser legível e parecer tentar desenvolver uma linha de raciocínio. mas o cara simplesmetne ignora 99, 99999% do filme, só faz referências (reacionárias, pra variar) extrínsecas ao filme e diz ter desvendado tudo
um imbecil
20:41 ou: hahaha o coitado do merten NEM TENTOU falar do filme
pode reparar

8 minutos
20:50 eu: hehehehe
nossa, ele escreve muita merda
sinceramente nem leio mais ele
20:51 ou: nem eu, nem eu
to mal lendo os caderno de cultura ultimamente
20:52 eu: sim, muita merda
vejo só mas manchetes e as imagens. tentar me satisfazer sensorialmente. hehehe
 

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