conversa com Eduardo "rococó" Roberto sobre os filmes Guerra ao terror e Anticristo (pelo gtalk)
não planejava escrever nada sobre estes filmes. mas, sabem aquelas conversas de bar que do caldo primitivo começam a se adensar formas de vida inesperadas? pois é, isso acaba acontecendo de forma recorrente com o rococó. me perguntou sobre o filme recém premiado com o nobel de hollywood,
Guerra ao terror. e depois sobre
Anticristo, do Lars von Trier. o resultado é o que segue. Eduardo atende pela alcunha "ou", eu pelo codinome "eu".
sobre o Guerra ao terror16:32 eu: sono da pooooorrrraaa!!!
caralho!!!!
no caso...
16:33 ou: toma um café cacete
eu: tomei 3
a porra tá ganhando resistencia, caraio!!!!
no caso...
16:35 ou: aayguayguaygauygaiuahaihauygauygaiuhaiuhauyga
cheire um pó então
ou já ganhou resistencia tb? kkkkkkk
16:36 eu: se pá...
do jeito que tá, acho que só acordo com toba...
no caso...
16:45 ou: aiuhaiuhaiuhaiuahaiuha
comer um toba ou levar no toba ou AMBOS?
16:46 eu: é... um dos dois deve fazer acordar uma hora...
ou: hahahahahahahaha
assistiu guerra ao teror?
eu: oui
16:47 ou: eae?
quais as impressões?
16:48 eu: uma bosta, oras
apesar de analisáveis.
ou: hahahahahahahaha
16:50 eu: analisáveis para mostrar como todos os pontos de contrapartida "humana" que ele tenta colocar não só legitimam, como coloca como se fosse um estatuto de procedência da necessidade da guerra.
16:51 o filme legitima tudo à partir dessa perspectiva "humana", com personagens complexos psicologicamente, etc
16:52 ou: o lance é q os caras acabam criando um vínculo emocional de dependência com o dia-a-dia de guerra deles não é?
16:53 eu: no máximo só dá para falar que ele concorda que "guerra é ruim!", mas não deslegitima, nem desconstrói a invasão americana. alimenta, aliás, um ponto de vista em voga nos eua pelas visões reacionárias, que diz "vocês pregam contra a guerra no iraque, mas vocês não percebem que estão fazendo nossos soldados sofrerem por nada? é isso o que vcs querem?"
não, só o protagonista tem esse vinculo emocional
todos os outros se traumatizam, se esfolam psicologicamente.
16:55 a idéia "progressista" de ter auqele cara como protagonista seria mostrar que o efeito do combate é tão barbarizante que a "vida normal cotidiana" se esvazia de sentido. a interação cotidiana do cara, como estado de normalidade, é só com a guerra.
só que o filme não gira em torno disso
ou: mas achava q o filme ERA isso
16:58 eu: seria se essa fosse o, digamos, conditio sine qua non da guerra no filme, se fosse o ponto de vista racionalizador da questão...
mas não é o caso
16:59 o discurso não é o de "devemos saír dali pq essa guerra é irracional e bárbara"
o discurso é "estamos nos contradizendo, pois ao invés de salvarmos as pessoas dos terroristas malvados e insanos, estamos destruindo o ideal americano"
17:00 completamente ambíguo
17:02 ou: noooooooooooossa
eu: sem falar que a estética do filme obriga você a ter que coadunar com essa ambíguidade como se os preceitos "morais" da guerra estão na vivência imediata do soldado. o que é muita distorção sobre a questão. a contraposição com o soldado de volta para casa e vendo o cotidiano sem sentido acaba sendo uma afirmação daquela vidinha familiar por negação, sabe? contrapõe à estética frenética no iraque e mostra como fica sem sentido no eua
17:03 ou: hahahahaha tem cara de tiro pela culatra isso
eu: total
17:06 sendo muito bonzinho, é um discurso democrata radical, que, como sempre, se volta contra o prórpio pé, pois só vê saídas do espectro ideológico do extremismo conservador corrigindo o republicanismo crasso, e não reordenando toda a coisa. supera o pólo, mas não a mediação da questão. acaba cobrando o mesmo plano de fundo, apesar de não ser, digamos, apaixonado pelo real "if you wanna make an omelete, you gotta break some eggs..."
sei lá, não gostei do filme
não que eu ache avatar melhor, ou coisa do tipo...
hehehe
no dia seguinte, rococó me mostra uma crítica ao filme que saiu pelo estadão.
13:49 eu: é...
bem burra a análise...
tanto para avatar quanto para o guerra ao terror
no caso...
13:50 ou: hahahahahaha
eu nem li, pra ser sincero, só te mandei
eu: no caso...
é, o cara reproduz o senso comum sobre os dois filmes... nada de novo, para ser sincero...
13:51 só que ele desgosta do guerra ao terror à partir de uma crítica meio unilateral sobre o filme... não leva em conta as complexificações "humanas" que falei ontem. aí ele tenta adequá-lo à fórmulinha "propaganda bélica ianque", quando é um pouco mais complicado do que isso...
13:52 ou seja, é uma análise bem esquemática
apesar de bem-intencionada
mas a análise dele sobre o avatar é intragável...
no caso...
sobre o Anticristo. vale alertar que o "ali" que escrevo se refere ao post anterior, sobre o dia internacional da mulher.
ou: mas ainda quero ler uma análise sua do anticristo eu: hehe
17:35 ou: por falar em mulher e o cacete
eu: vixe
17:36 bom, partiria do que está ali. aliás, ele colocou o que está ali, só que em termos mais abstratos e sem explicitar a questão de relação social
mas está lá também
17:37 é um filme bem foda
um dos melhores que vi nos últimos tempos, aliás
17:45 eu: quando digo que a verdade feminina é a revelação da mentira da subjetividade fálica, também tá lá, perfeito. a fragilidade e a agressividade da mulher é uma concessão do homem. ele que desenha o mapeamento cognitivo da subjetividade feminina. daí o foco na idéia da natureza tornada perversa. é uma "natureza" manipulada pelo falo. daí também a castração feminina. daí também o luto, o desespero e o sofrimento como elementos organizadores, já que são estágios em que o ordenamento do real a partir de uma estruturação fenomenológica (objeto apreendido pelo entendimento através de um ordenamento objetivo da realidade) se esfacela psicologicamente... e o final... que é o gênero feminino sem persona, opaco, desprovido de interioridade, sendo apenas o homem o sujeito inteiriço, com uma unidade interna subjetiva.
17:47 e como meio social... são uma população de mulheres sem rosto... etc...
muito foda!!
muito foda mesmo
sem falar as um milhão de referências que precisaria listar
17:48 à cultura cristã, filosofia ocidental, psicanálise
nossa, acho que ninguém analisou ainda pq é uma tijolada mesmo
17:51 e termina como se fosse uma unidade sublime, com fotografia impecável, trilha sonora renascentista, e os três mendigos quietinhos, juntinhos. como se esse estado de violência obsoluta fosse o estado de normalidade.
17:52 ou: pqp né
eu: ele obriga o espectador gozar, mas pagar um preço caro pelo gozo. faz ele ver o que está por trás desse gozo. uma violência abominável. que nós coadunamos.
nossa, o cara é muito foda
ou: total podicre MESMO
eu: acho melhor que o haneke
17:53 ou: eu tb
mas ambos tem esse traço q eu admiro fortemente, de mostrar a perversidade da própria relação do cara q vê o filme com o próprio filme
17:54 eu: sim, sim. muito foda.
17:57 só q o haneke tenta, digamos, contornar o gozo. ele mete porrada e tira sarro do espectador, mas achando que o está forçando a refletir sobre o que está vendo. o lars von trier no anticristo faz uma coisa que é gritar algo do tipo "é isso q vcs querem? tá bom, tomem, aproveitem. só que vcs também terão que receber isso aqui...".
acho bom colocar que tive permissão do rococó para postar essa conversa. muitos saltos de raciocínio e algumas constatações meio genéricas... mas talvez um dia dê para detalhar melhor...
no caso...
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