fukushima, mon amour
toda minha família por parte de pai, duas gerações antes da minha, são de fukushima. meu pai cresceu ouvindo falar desta cidade, convivendo com as descrições detalhadas de minha vó (de memória impressionante, diga-se de passagem) sobre os bairros, as pessoas, as formas de relacionar-se, as dificuldades, enfim, toda uma estrutura de sentimento legada a uma população obrigada a procurar melhores condições ao sul do equador. fukushima não surge em meus pensamentos da mesma forma que para meu pai. não sinto nostalgia ou pesar num sentido "cultural", no sentido identitariamente elementar do termo. a aflição que sinto ao ler as notícias sobre o terremoto e tsunami é idêntica àquela que a maior parte das pessoas sentem, e que já descrevi no post de domingo: agonizo por ver milhares de pessoas sofrendo. nada mais. mas me entristeço por grande parte de minha família, que se vê obrigada a testemunhar a origem de seu legado cultural transformada em palco de uma possível nova Tchernobíl.
não coloquei estas questões antes por não achar que eram relevantes para a pequena reflexão que queria fazer. mas retomo o assunto neste âmbito mais pessoal, subjetivo, etc., para insistir num ponto: o perigo de um acidente nuclear não é a iminência de um acidente natural. não nos deixemos levar por nossas emoções, que certamente são importantes, mas são usadas contra nós mesmos por nosso inimigo, a saber, um sistema que aponta a reprodução de usinas nucleares como a forma mais eficiente de se produzir energia. não esqueçamos que também participamos desse vôo de minerva...
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no mais (já que estou na pala "mensagem pessoal"), meu último dia no trampo. sensação esquisita. nunca havia pedido demissão antes.