Não sei quanto a vocês, mas já estava um pouco estafado dos bafafás e tititis da magnificente “oposição” na eminente “política” partidária do establishment (não há como evitar o uso excessivo de aspas ao discorrer sobre este assunto, espero não ter que explicar o porquê), por mais entretido que tivesse ficado no começo da coisa toda. Depois de todos estes meses de dedos apontados para lá e para cá, metralhando quem aparecesse para culpar o vexame dos resultados eleitorais (culminando, inclusive, no esparso enfraquecimento da hegemonia alckimin-serra e nas cômicas “crises internas” do DEM e PSDB – transformando os cadernos de política em verdadeiras “Revistas Contigo” parlamentares), finalmente aparecem nos jornais prescrições administrativas e diretrizes de governança em resoluções internas.
Agora com o coroamento de José Agripino Maia na presidência do DEM e o consenso de Aécio Neves como garoto-logomarca para as eleições de 2014, finalmente passam a abertamente discorrer sobre a “estratégia nacional para assegurar sua sobrevivência política”. Houve comentaristas raivosos, os afamados panfletários imparciais, que cobravam a reinvenção do DEM e do PSDB. Pois bem, hoje no Estadão, famigerado panfleto diário da dupla entidade, discorreu-se sobre esta reinvenção. Atentemos a ela:
[...] A ideia do partido é investir nos eleitores da classe média, especialmente aqueles que chegaram há pouco tempo nessa faixa, impulsionados pela ascensão que tiveram durante o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Na avaliação dos dirigentes do DEM, essa nova classe média é conservadora nos costumes e cobra uma atuação mais presente do Estado. Nessas análises, o comando do partido concluiu que esse grupo de eleitores demanda uma participação direta do governo, mas de uma forma diferente do que se imaginava. Não se trataria de estatizar empresas ou rechaçar privatizações, mas sim de exigir que a administração pública garanta a eficiência de serviços públicos - nas áreas de educação, saúde e segurança, por exemplo.
Por “classe média impulsionada pela ascensão que tiveram durante o governo Lula” entenda-se a integração via “crédito fácil” (sem base real na reprodução econômica senão pela expansão virtual de parcelamento de dívidas de valores relacionados aos juros na categoria "consumo") das classes C e D associadas às vultosas excrescências de precarização e informalidade, que parecem não existir mais segundo as páginas deste mesmo jornal (entre outros correlatos), na compreensão monolítica Democrata. Daqui, deparamo-nos com o fabuloso insight de que não se trata desta ou daquela opinião sobre gestões “privatizantes” ou “estatizantes”, mas da competência administrativa, da lucidez na lógica de governabilidade, esta refletindo na demanda da “classe média conservadora”.
Qual a grande solução ideológica deste glorioso brainstorm tático? Será tão intransparente?
Está lá, mais evidente do que pode parecer: Reproduzir o lulismo! Mas com o catch de se reconhecerem a partir de uma identidade conservadora! (meus três termos preferidos para referir-se a isso são “crítica a favor”, “resignação militante” e “formalismo contestador”) Enfatizar o que há de tucano no petismo! Se quando ouvimos pela primeira vez, era trágico, na segunda era farsesco, agora chegamos ao... desbunde? Sei lá, não quero difamar nenhum gênero literário aqui... Depois perdem os barões de suas “bases” e não sabem o porquê...
Bom, acredito que o que se deve ressaltar é que não estamos testemunhando um enfraquecimento da direita (por Deus, não!). Trata-se de um desdobramento ideológico no metabolismo conjuntural ativado pelo fermento lulista, que ainda não foi devidamente desvendado. Vem chumbo grosso por aí. E é custoso reconhecer que o balanço tem seu “q” de verdade: o consenso dessa classe de pobres “geridos” é conservador. O medo de rupturas é geral e absoluto, beirando o bonapartismo. Mas de forma alguma é “conformista”. Há muito que se observar com paciência.
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No mais, li pela primeira vez hoje Culture is ordinary, pequeno artigo do Raymond Williams. Recomendo a todos que o procurem. Não sei se existe em alguma edição em português. Devo admitir uma série de não-afinidades minhas com o texto, mas é extraordinário.