Fiquei encantado com a seguinte frase de Obama em seu discurso no Theatro Municipal do Rio de Janeiro (não consegui encontrar o discurso original, então não sei se foi um lapso do tradutor do estadão):
“O Brasil, um país que mostra que uma ditadura pode se tornar uma florescente democracia.”
Adorei porque aqui não estão relacionados como excludentes o termo “ditadura” do termo “democracia”, como se houvesse um reconhecimento involuntário do convívio entre os dois, sem que um necessariamente negue o outro, permitindo até mesmo reconhecê-los como estágios evolutivos de um ordenamento social. Não sei se partilham de minha percepção, mas considero o primeiro grande balanço a ser feito hoje sobre esta herança história, e que poucos fazem, é o de que a ditadura venceu. E sua grande vitória ideológica se reflete no consenso absoluto de que se trata uma página virada e superada. Mesmo que todos convivamos pacificamente com suas estruturas financeiras, administrativas, sua polícia e seu raciocínio de politicidade. E, vejam só, motivo de orgulho nosso, que somos tratados como iguais pelo presidente do mundo. Perguntemo-nos se conseguimos correr atrás do prejuízo e agora falamos de igual para igual com o centro do sistema, ou se o capitalismo transnacionalizado, global, regrediu à miséria ideológica pasmosa brasileira.
Incrível a naturalização com que se veiculam o no-fly zone sobre a Líbia, considerando que se trata de um país sem nenhum setor aeronáutico em seu arsenal bélico. Sem mencionar a aceitação de que um bombardeio cirúrgico (herança da doutrina Cheney) se traduz como ação ética de apoio aos insurgentes e contra um ditador (financiado e apoiado por todas as nações que o atacam até o inicio das irrupções sociais no mundo árabe...). Obscena a ausência de perspectivas críticas em relação ao bombardeio. Quando Bush invadiu o Iraque, não houve este silêncio na política mainstream. Ficávamos pasmados com a aparição grotesca dos integrantes do gabinete republicano, mas facilmente se transformavam em caricaturas. Ainda dependemos de uma perspectiva personalizada da política para entendermos uma ação militar perpetrada com interesses não explicitados, com claros interesses escusos não expressos?
Inacreditável, aviltante, inaceitável a equiparação feita por nossos jornais entre Baby Doc e Jean-Baptiste Aristide, chamado pela própria população haitiana de “O novo Dessalines”. Ainda é assustadora a incapacidade de se entender a dinâmica social deste país.
Amanhã ocorrerá o décimo grande ato contra o aumento da passagem de ônibus. Todo apoio aos manifestantes, em busca de um mundo sem catracas!
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Última semana de A dócil no Galpão do Folias. Trabalho maravilhoso do Pedro Mantovani com o Dagoberto Feliz. Acho que reassistirei no sábado. Quem me acompanha?
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